25 outubro 2012

IN VINO VERITAS

Quando já debilitada pela idade e pela doença, acompanhei minha tia Mariana, no seu passeio matinal, pelas redondezas da avenida 5 de Outubro, praça Duque de Saldanha, avenida da Republica.



Consistia o passeio na visita às antigas e sobreviventes, pequenas lojas do comércio local, onde toda a gente a conhecia e de onde, nos últimos cinquenta anos, tinha sido uma boa cliente.



O passeio culminava na pastelaria Tim-Tim para tomar um café acompanhado de um cigarro. Um cigarro, daqueles que só fazem mal aos outros e que nem sequer foram a causa do seu falecimento.



Minha tia Mariana faleceu com 76 anos, um pouco mais nova que minha Avó que faleceu com 100 anos e um dia. Ambas, mãe e filha, fumavam tabaco sem filtro e de quando em vez, moderadamente, bebiam o seu copito de Whisky, puro, sem gelo, tendo a minha avó falecido pela comoção da festa do seu centésimo aniversário.



Por curiosidade apenas vos digo que, a minha mãe que nunca fumou e nem sequer o meu pai fumava em casa, faleceu dois anos depois, aos 76 anos, com uma daquelas doenças que matam os fumadores.



Minha tia Mariana, teria sido na sua juventude uma rapariga linda. Morena olhos verdes, estatura média, terá dado sem dúvida a volta à cabeça de muitos rapazes do seu tempo.



Já nos anos oitenta, a quando se passou a história que vos vou contar, ela ainda era uma senhora vistosa, sempre muito bem arranjada, cabelo artisticamente penteado, aquilo a que se chamava uma verdadeira senhora, que ainda fazia recair sobre si, os discretos olhares dos jovens septuagenários da sua idade.

Foi num desses passeios matinais pela avenida 5 de Outubro, na minha companhia, pois no seu estado de saúde já não era aconselhável andar sozinha pela rua, que um elegante cavalheiro, de idade igualmente avançada, disfarçando um passo pouco estável, nos abordou.

Tirando o chapéu num elegante cumprimento, dirigiu a palavra à minha tia, nestes termos:



- Bom dia minha senhora. Vossa excelência terá a bondade de me informar que horas são?



Olhando para o relógio minha tia retorquiu:
- São dez horas!

O cavalheiro empertigou-se, olhou para a minha tia com ar de profunda surpresa e acrescentou:

- O quê… dez horas da manhã e eu já estou bêbado?!