16 abril 2007

O SONHO DA PRIMEIRA BAILARINA

Dedico este conto a MARIA CARVALHOSA autora do blog “THORNLESSROSE” e a JÚLIA CALÇADA (pintora) pelos trabalhos apresentados no seu blog “JC”
Para compreenderem o sentido deste meu conto, leiam de Maria Carvalhosa o seu post “A quarta arte” e “The Shoow is Over” em referencia aos trabalhos de pintura de Júlia Calçada

APELO

Queridos amigos, como sou um idiota e não consigo “postar” comentários nos vossos blogs, resta-me esta solução para mostrar o meu apreço pelos vossos trabalhos.

A todos que me lerem, agradeço que façam chegar este conto e esta mensagem às duas supra citadas e talentosas bloguistas.
* * *
Hoje, depois do último aplauso, depois das luzes se apagarem, depois das portas do teatro encerrarem, depois do último autógrafo, depois do último ramo de flores, vou ter tempo para mim, pensou a bailarina quando finalmente os seus pés tocaram o chão.

Com passos humanos, atravessou a porta dos fundos, saiu para a rua, invisível, disfarçada no seu corpo humano, que não o da bailarina.

Não tomaria o caminho de casa. Não iria regressar a casa pelos caminhos da fama, não iria regressar para a solidão, não iria regressar para a sua cama vazia, preço da dedicação ao trabalho, à sua arte.

Desta vez partiria à descoberta de antigos caminhos, que já percorrera, quando ainda mal se equilibrava nas duas pernas, no seu andar desajeitado de menina que sonhava ser bailarina.

Atravessando as ruas da cidade, ofuscada pelos anúncios luminosos, pelas luzes vermelhas e verdes dos semáforos aos quais já nem prestava atenção, corria vertiginosamente em busca do sonho.

Aqui e além ainda viu a sua fotografia e um cartaz que anunciava a lotação esgotada do espectáculo de amanhã. Carregou a fundo no acelerador da viatura descapotável que conduzia, deixando entrar o ar morno da noite que lhe afagava o cabelo solto. Que bem lhe sabia sentir o cabelo solto…

Para traz ficava a cidade, ficava o público, ficavam os fotógrafos a imprensa, os contratos e os compromissos sociais. Na sua frente ficava a estrada, serpenteando em curvas apertadas ao longo da falésia escarpada do fundo da qual lhe chegava o som do mar.

Os faróis rasgavam a noite e mostravam-lhe o caminho da liberdade. Era possível, ainda havia tempo, talvez ainda houvesse tempo…

Seguia agora numa velocidade vertiginosa na esperança de ainda chegar a tempo.

Olhou para o lado, nervosamente procurou a maldita caixa dos comprimidos que não encontrava, precisava deles.

A estrada tornou-se subitamente mais suave, o carro parecia voar, sentia um silêncio e uma tranquilidade absoluta, como só os anjos podem experimentar.

Despertou da sonolência em que estava, a seu lado um braço forte de homem envolvia-a na ternura de um abraço, no rosto um beijo suave e uma mão de criança que lhe afagava o seio, um beijo do filho que nunca chegou a ter.


8 Comments:

At 16 abril, 2007 15:23, Blogger Maria Carvalhosa said...

Um obrigada muito especial, amigo Besnico. Sem a tua preciosa contribuição o resultado deste desafio teria ficado incompleto.

Um beijo com muita ternura.

 
At 16 abril, 2007 18:23, Blogger Maria Carvalho said...

Gostei de te ler. Beijos.

 
At 16 abril, 2007 21:14, Blogger Moura ao Luar said...

Beijokas e boa semana

 
At 17 abril, 2007 10:37, Blogger Maria said...

Pronto, Besnico, lá me puseste novamente a ... chover...

Beijo

 
At 17 abril, 2007 13:29, Blogger Besnico di Roma said...

moura ao luar - Depois de ver o teu... o teu... o teu blog, achas que alguém vai quer saber mais do aeroporto da OTA ou da licenciatura do Zé Socas?...

 
At 17 abril, 2007 13:32, Blogger Besnico di Roma said...

maria - Quando te conhecer vou levar guarda-chuva...

 
At 18 abril, 2007 01:26, Anonymous Anónimo said...

Está fantástico, deixo-lhe um abraço...

 
At 13 maio, 2007 23:30, Blogger redonda said...

Pareceu-me muito bem escrito, mas triste.

 

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