CHEGARAM AGORA DA AMÉRICA
Pese embora o facto de não estar melhor da minha amnésia, continuo a não me recordar, daquilo que não consigo esquecer.
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Lisboa naqueles tempos, era uma ”aldeia” um pouco maior do que as outras, povoada aqui e além, por figuras humanas muito singulares.
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Recordo-me do engraçado “ Fernandinho peixeiro” homossexual, uma autêntica varina em traje de pescador, maneando-se de canastra à cabeça e chinelinha a dar a dar; recordo ainda o “Vicente” como lhe chamávamos, mas não era o seu verdadeiro nome e cujas histórias das imaginativas e bem sucedidas burlas, eram motivo de conversa e risada nos cafés, pelo caricato das situações que engendrava para ludibriar os turistas e não só. Consta que chegou a “ vender” a Torre de Belém a um americano, já para não falar da famosa venda dos cisnes dos lagos da avenida a um provinciano cheio de notas, que foi detido pela polícia quando tentava recolher o produto da sua aquisição.
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Já noutro contexto, recordo a figura característica do “Noivo” e de “Catitinha” um idoso cavalheiro, um caso dramático de demência provocada por um desgosto que motivou este velhinho bondoso a ser obsessivamente defensor das crianças.
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Recordo ainda “Alberto” que se intitulava tenor, mas que na maior parte das vezes percorria as ruas de Lisboa, com uma colher na mão a fazer de microfone, e num ritmo alucinante, com boa dicção e voz bem colocada, fazia relatos de futebol, qual locutor radiofónico.
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Outras figuras típicas da cidade, vos poderia citar aqui; mas hoje vou apenas falar-lhes de “O Bolacha Americana”.
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Ah!... lembrei-me agora de outro. Deixo aqui um desafio para os rapazes e raparigas da minha idade:
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- Quem é que se lembra do “HOMEM MACACO” ???
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- Vá lá, miúdos de Lisboa, recordem esta figura de 1950, mais coisa menos coisa. Fico a aguardar as vossas respostas.
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Lisboa naqueles tempos, era uma ”aldeia” um pouco maior do que as outras, povoada aqui e além, por figuras humanas muito singulares.
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Recordo-me do engraçado “ Fernandinho peixeiro” homossexual, uma autêntica varina em traje de pescador, maneando-se de canastra à cabeça e chinelinha a dar a dar; recordo ainda o “Vicente” como lhe chamávamos, mas não era o seu verdadeiro nome e cujas histórias das imaginativas e bem sucedidas burlas, eram motivo de conversa e risada nos cafés, pelo caricato das situações que engendrava para ludibriar os turistas e não só. Consta que chegou a “ vender” a Torre de Belém a um americano, já para não falar da famosa venda dos cisnes dos lagos da avenida a um provinciano cheio de notas, que foi detido pela polícia quando tentava recolher o produto da sua aquisição.
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Já noutro contexto, recordo a figura característica do “Noivo” e de “Catitinha” um idoso cavalheiro, um caso dramático de demência provocada por um desgosto que motivou este velhinho bondoso a ser obsessivamente defensor das crianças.
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Recordo ainda “Alberto” que se intitulava tenor, mas que na maior parte das vezes percorria as ruas de Lisboa, com uma colher na mão a fazer de microfone, e num ritmo alucinante, com boa dicção e voz bem colocada, fazia relatos de futebol, qual locutor radiofónico.
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Outras figuras típicas da cidade, vos poderia citar aqui; mas hoje vou apenas falar-lhes de “O Bolacha Americana”.
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Ah!... lembrei-me agora de outro. Deixo aqui um desafio para os rapazes e raparigas da minha idade:
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- Quem é que se lembra do “HOMEM MACACO” ???
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- Vá lá, miúdos de Lisboa, recordem esta figura de 1950, mais coisa menos coisa. Fico a aguardar as vossas respostas.
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CHEGARAM AGORA DA AMÉRICA
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Aparecia, normalmente no início da primavera e ficava até ao final do verão.
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Vestia de branco, casaco, calça e sapato. Na cabeça uma barretina branca, igual ás dos marinheiros dos filmes americanos. Figura franzina, cerca de um metro e sessenta e cinco, extremamente magro e um rosto no qual um bigodinho característico fazia vagamente lembrar Charlie Chaplin.
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Não sei se corria Lisboa inteira a vender os seus produtos, mas via-o normalmente no chamado Bairro Azul, nas avenidas novas e ali para os lados do Campo Pequeno, Fonte Luminosa.
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Entrava pelas traseiras dos prédios e ali entre os muros dos quintais, lançava o seu pregão, numa voz característica, bastante audível por todo o bairro:
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- Óoooohiiii! (gritava). Chegaram agora d´Améééricaa!... (pausa) Trazem açúcar e canela. (nova pausa)… é a Bolacha Americana.
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Às janelas acorriam a miudagem e as empregadas domésticas, prontas a gozar o espectáculo.
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Novo pregão, sem sucesso, e lá continuava ele…
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Não sei se alguém lhe comprava alguma coisa; que eu tenha visto, não. Tão pouco sei, se a razão deste insucesso, se devia à falta de confiança na higiene do produto, se a qualquer outra razão.
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Para mim, com sete ou oito anos, as bolachinhas tinham um aspecto óptimo, mas nunca comi nenhuma.
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Perante o insucesso da venda, o nosso Bolacha Americana não desarmava; e como ninguém o chamava - aos gritos, chamava-se ele a si mesmo:
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- Pesssht! Pesssht!
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Chamava-se e respondia em simultâneo:
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- Já lá vou!... Já lá vou!... Só posso atender um de cada vez! ….
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Quem o não estivesse a ver, mas apenas a escutar, julgaria que o solitário vendedor não tinha mãos a medir com a clientela.
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Feito o espectáculo, saia de cena com o passo apressado de comerciante atarefado, que ainda tinha muitos clientes para visitar.
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2 Comments:
Caro Besnico!!!
Passa na porta ao lado e é muito envergonhado para apertar a campainha...hummm...eh eh eh!
Essa barba farfalhuda não me engana: isso é tudo timidez!
floracardoso@hotmail.com
Pode ser um bom começo para o chocolate? que tal?
Abraço,
Princesa
Bolacha Americana! Não sou de Lisboa... Deliciosa descrição. Beijo
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