29 março 2007

MÃOS SUJAS ou Uma Lição de Vida

INFORMAÇÃO

Na impossibilidade de apresentar já o prometido texto “UMA BATALHA, UMA ERMIDA E UMA BILHA DE ÁGUA FRESCA” deixo-vos aqui esta historieta.
Não serve de desculpa, mas o meu filho passou por cá. Atravessou o Atlântico para vir ao aniversário do pai e estar em casa no Dia do Pai. Mas atenção, fez o mesmo no aniversário da Mãe.
Como estou envergonhado ele atravessou o Atlântico para nos visitar e eu, mau filho, egoísta, muitas vezes não visitei a minha mãe, porque não me dava jeito vir de Carcavelos a Lisboa.
Nem a Deus posso pedir perdão, por aquilo que acho imperdoável.
* * *
Penso que as conversas entre pais e filhos, no momento exacto e usando apenas palavras quanto bastem. Sem grandes figuras de retórica, sem recriminações ou agressões verbais, sem imposições, mesmo que aparentemente lhes não seja prestada grande atenção, são como as sementes. Depois de lançadas à terra desaparecem, não se vêem, mas no tempo próprio, acabarão por dar flor.

* * *




Não sei que idade tinha. Mas seguramente a minha altura não era ainda superior á altura de uma mesa de café, nas esquinas das quais eu, a miúde, batia com a cabeça. Posso afirma-lo pois que, como criança que era o meu horizonte ainda era curto.

Caminhando de mão dada ao lado de meu pai, por entre a multidão da Baixa Lisboeta, recordo que apenas via da cintura para baixo as pessoas adultas que me estavam mais próximas no meio de toda aquela amalgama de gente.

Foi então que, lembro-me como se fosse hoje, puxando pela mão de meu pai, rindo e galhofando, lhe chamei a atenção para as mãos de um homem que caminhava na nossa frente.

A sua indumentária, indicava claramente tratar-se de um operário, possivelmente um mecânico. Mas eu ainda não sabia fazer raciocínios desses.

- Olha Pai, olha as mãos deste homem… tão sujas (galhofando)

Meu pai parou, olhou para mim com condescendência e agachando-se para ficar à minha altura, respondeu textualmente isto:

- Não meu filho. Aquelas são mãos de trabalho. Mãos sujas são as dos ladrões.

Não sei porquê, não posso explicar. Passaram anos, muitos anos e não mais me lembrei disto.

Agora que vou entrando na idade, cada vez mais e com mais clareza, me vou recordando destes pequenos ensinamentos que no final, não lhes tendo prestado grande atenção, terão todavia moldado a minha maneira de ser.

05 março 2007

UMA BATALHA, UMA ERMIDA E UMA BILHA DE ÁGUA FRESCA

INTRODUÇÃO

Aprendi com o tempo que não devo escrever textos muito extensos, porque depois, de enfadonhos ninguém os lê.

No caso presente, este texto que escrevi é de facto demasiado extenso. Assim, decidi dividi-lo em duas ou três partes e publicar uma dia sim, dia não.

Todavia pareceu-me que seria interessante apresentar uma explicação prévia.

Ora como provavelmente não sabem, ontem dia 15 de Março, foi o dia do meu aniversário. Por esse motivo para comemorar os meus 26 anos de idade foi com dois amigos visitar uma aldeia do nosso país, que foi cenário daquilo que vos irei contar mais adiante e aproveitar para tirar as ditas fotografias.

Estava tudo previsto excepto o que vos vou contar:

- Já não passava por aqueles lados há pelo menos 30 anos. Contactar com pessoas da terra, com amigos de infância e outros, poderei afirmar que seguramente há 40 anos que perdi o contacto com eles.

Foi então que quando estava a tirar as fotografias para este conto, deparo com um jovem da minha idade que me olhava fixamente. Depois de alguma hesitação abordou-me e perguntou textualmente isto: - Olha lá tu és tu?
Cinco segundos bastaram para que sem qualquer sombra de dúvida, num abraço forte de emoções de quarenta anos, tivesse reconhecido nele o Carlitos.
Logo de seguida apareceu o Victor, a notícia foi-se espalhando e não tardou que estivéssemos a dar a volta á aldeia. Voltei a ver a Maria Helena, a Júlia o Adriano e tantos outros.

Falamos dos nossos filhos, recordamos os nossos pais, tios, avós e amigos já desaparecidos. A emoção atropelava as palavras, trocaram-se contactos, marcaram-se novos encontros… para breve, tem que ser para breve, pois já não temos a certeza de quanto tempo dispomos…

Tal como no dia da batalha, o sol escondia-se no horizonte, estava tudo acabado. O carro desaparecia na curva da estrada, no ar a promessa de um novo encontro… para breve… para breve.