17 dezembro 2006

O PAI NATAL DAS CARAÌBAS ou a última fotografia

O que vos vou contar teve por cenário o local que se pode ver nesta fotografia
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Não é novidade para quem lê este blog. Todos sabem que estive de férias nesta praia no passado mês de Outubro.
Não é pois essa a razão pela qual vos volto a falar de Surf Side, uma praia da Ilha de Barbados.
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De manhã, muito cedo, como de costume, vinha tranquilamente a passear pela praia, sim porque aqui por estas paragens, caso não saibam, pelas seis horas da manhã, já é dia claro.
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Tinha acabado de tomar o meu café no Surf Side, aquele horrível café que o mundo inventou para chatear os Portugueses, sim porque café-café, só mesmo em Portugal… em Itália e mais recentemente nalguns sítios em Espanha.
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Mas como ia dizendo, preparava-me para me estender à beira mar, quando, qual não é o meu espanto, vejo a minha cadeira ocupada por um andrajoso velho, de desgrenhadas barbas brancas , completamente vestido como se estivesse à espera de um nevão, não obstante os cerca de 30 graus que se faziam sentir. Não pude deixar de reparar que alinhadas junto à cadeira, jazia um par de botas grossas.
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Disposto a recuperar a minha cadeira, abeirei-me do velho, dei-lhe os bons dias e disse-lhe:
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- Desculpe senhor, mas essa cadeira é minha.
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Tranquilamente, sem desviar os olhos do fundo do coco de onde sorvia por uma palhinha, um batido de frutas com rum, o velho retorquiu:
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- Sua!?... e o que é que o senhor fez para a merecer e dizer que é sua?...
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Fiquei furioso e respondi:
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- Mandei-a buscar e disse para a colocarem aqui.
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Uhmm respondeu o velho. Então nem sequer se deu ao trabalho de a ir buscar; mandou que a colocassem aqui… oh oh oh! Gargalhou o velho com uma expressão que não distingui, pois mal lhe via a cara debaixo da espessa barba; e dizendo isto continuou a fixar o horizonte enquanto sorvia o seu refresco.
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Comecei a ficar irritado…
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Olhei em volta, para ver se havia outra cadeira ou se via alguém para mandar levantar o insolente velhote. Nem viva alma, nem cadeiras nas redondezas; estávamos sós.
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Saídas não sei de onde, vislumbrei duas crianças que caminhavam pela beira-mar na nossa direcção.

Ela muito loirinha de olhos claros de azul do mar, ele muito moreno, olhos escuros e um tom de pele e feições que faziam lembrar as crianças daquelas tribos do Norte de África. Ambos não tinham mais do que cinco seis anos.
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Das mãos do rapazito pendiam dois peixes, suspensos por uma argola de vime, que dois pedaços de folha de palmeira protegiam do sol.
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Ao verem-nos, correram na nossa direcção.
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Ela saltou para o colo do velho e aninhou-se no seu regaço. Ele puxando pela minha camisa, teve este comentário espantoso:

- Olha!... também conheces o Pai Natal?... estavas a falar com ele?!...

Lacónico, o velho apenas fez uma advertência:

- Jesus, não incomodes o senhor...

De furioso passei a espantado. Não compreendia o que se estava a passar.
Era óbvio que os miúdos conheciam o velho. Mas isso não deixava a minha cadeira livre.
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Por momentos, pensei voltar a cadeira e atirar com o velho ao chão.
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Saltando à minha volta, o miúdo a quem o velho chamava de Jesus, não parava de me puxar pela máquina fotográfica dizendo:
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-Tira uma fotografia à Maria e a mim com o Pai Natal… tiras?…
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- Tavas a pedir uma prenda ao Pai Natal?... tavas?... inquiriu Maria.
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A situação estava insustentável. Resolvi então estender a toalha e deitar-me no chão e explicar ao miúdo que aquele velho, maluco e insolente não era o Pai Natal, era apenas um senhor mal-educado, que abusivamente se tinha sentado na minha cadeira.
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Expliquei também que o Pai Natal se veste de vermelho, e é um velhinho bondoso que em Dezembro vem do Pólo Norte com um grande saco, distribuir prendas de casa em casa e que ainda estávamos em Outubro.
Falei ainda da neve, das renas e de que o Pai Natal, como é bonzinho não iria nunca tirar a cadeira de outra pessoa.
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Foi então que os miúdos olhando para mim com olhos tristes disseram:
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- Tu não acreditas no Pai Natal. Tu não sabes nada. As prendas do Natal, são dadas pelos pais, pela família e pelos amigos… achas que o Pai Natal numa noite dava a volta ao mundo para visitar toda a gente?!...achas?... Tu não sabes nada!... és um crescido, mas não sabes nada!
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Ai não!... as prendas não são dadas pelo Pai Natal?... respondi eu, provocando os miúdos e fazendo-me admirado.
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Não, responderam eles. As prendas do dia de Natal são presentes que as pessoas trocam, para comemorar o aniversário do Jesus. Não tem nada a ver com as do Pai Natal.
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- As prendas do Pai Natal são dadas a todos, todos; ao longo dos anos…. ao longo da vida, como prémio de alguma coisa.
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Já todos tivemos pelo menos uma vez nas nossas vidas uma prenda do Pai Natal; mas temos que a merecer… temos que nos portar bem.
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O sol já então castigava e julgo que por instantes adormeci.
Quando acordei estava sozinho na praia; o velho e os miúdos tinham desaparecido. Finalmente a minha cadeira estava vazia.
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Senti um estranho sentimento de arrependimento, por não ter fotografado os miúdos com o velho. Não pelo estúpido velho, mas pelos miúdos.
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Era o meu último dia de férias na ilha e logo esta incómoda, situação.
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Resolvi então tirar uma fotografia à praia com a cadeira vazia, para recordação daquele lugar onde passei uns dias muito agradáveis.
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Ajustei a câmara, carreguei no disparador e nada. No visor apareceu-me a seguinte mensagem “lens error”. Nova tentativa e a mesma coisa “lens error”. Bolas, já só faltava esta; tenho a máquina avariada.
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Reparei então numa coisa espantosa - não tinha chovido, as marés aqui na ilha são de amplitude mínima, quase não há marés e na praia em volta da cadeira e até onde a vista alcançava não havia ainda vestígios de pegadas, apenas as minhas, bem definidas, num único trajecto da beira da água, até à toalha onde me deitara.
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Hoje fui ao centro comercial buscar a máquina fotográfica que tinha mandado reparar. O dono da loja disse-me que a máquina não tinha nada e estava a trabalhar perfeitamente.
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Paguei e entregou-me o CD com as fotografias que entretanto lhe pedi para fazer.
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Quando ia a sair da loja diz-me o dono da casa:
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- Achei imensa graça á última fotografia, até a mostrei à minha mulher.
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A do barco e das tartarugas, perguntei?
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Não, respondeu ele - a do Pai Natal.

(Fotografia roubada a Toni Inniss)
Santa on Beach - Barbados, West Indies - Photography by Toni Inniss
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Vejam a vida pelos olhos das crianças e o Mundo será mais belo
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A todos os que me lêem e tem feito o favor de me acompanhar ao longo deste ano desejo

UM SANTO NATAL
E
QUE NO NOVO ANO O PAI NATAL VOS TRAGA A PRENDA
QUE TANTO SE ESFORÇARAM PARA MERECER .
São estes os votos do vosso amigo Besnico di Roma
Natal de 2006
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06 dezembro 2006

BURRO VELHO NÃO APRENDE LINGUAS ou um pedido ao Pai Natal

Desisto. Não vale a pena.
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Gostava de ter um “blog” bonitinho como os vossos. Com música de fundo, com os “links” dos meus favoritos, com a apresentação do lado direito dos últimos comentários.
Mas não sei fazer nada disto.
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Os “links” que lá estão foram colocados por uma nossa amiga que me fez esse favor, mas a quem agora não posso, não é conveniente, pedir nada disso.
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Ai se aparecesse por aí uma alma caridosa que quisesse ensinar o Besnico…
(isto até parece aquela conversa esfarrapada dos vinte anos – queres ir a minha casa ver a minha colecção de selos?...)
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Agora por colecção de selos… o que eu me havia de lembrar; digam lá meninas da minha idade – quando um rapaz as convidava para irem ver a colecção de selos, ou ouvir discos lá a casa, quando os pais não estavam, iam de facto e ingenuamente ao “engano”, ou em consciência sabiam o que isso poderia representar?...
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Nunca tinha pensado nisto e por isso nunca perguntei a ninguém. Penso que na nossa idade já não faz mal falar destas coisas. Mas só aceito respostas de quem à data do 25 de Abril tinha pelo menos 25 anos, por razões obvias.
(olha que lindo tema de conversa que eu arranjei para a época de Natal – muito a propósito… o velho é maluco)
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Bem, mas não se esqueçam do meu “blog”, pode ser por e-mail ou por telefone, para evitar as más línguas… não dá é para tomar uns copos.
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Se forem “gajos” não há problemas, mas se forem meninas, podem vir acompanhadas com os pais. Eu sou um “rapaz” sério e respeitador.
(os meus infelizmente já não estão em casa… não voltarão a estar… e que saudades. Mas se fosse possível, ainda que fosse a última coisa que fizesse, gostaria de voltar a dar uma festa na garagem, onde estivessem presentes os meus pais e convidava todas as meninas da minha idade, para estarem presentes e desta vez até seriam bem vindos, seria mesmo imprescindível, que se fizessem acompanhar pelos respectivos pais)
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Bolas!... o Natal é, sempre foi, uma época difícil para o Besnico. Nunca estavam todos, faltava sempre alguém…
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Mas, a pesar de tudo, era bem melhor… porque agora, só estamos nós, faltam todos e no próximo ano também não estarão.
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Não faz mal, um dia estaremos todos e nesse dia farei uma festa - UMA GRANDE FESTA NA GARAGEM, e vocês todos estão convidados; morenos e brancos, ricos e pobres, analfabetos e doutores, meninos e meninas da minha idade.
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ESTE ANO É O QUE PEÇO AO PAI NATAL
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