15 fevereiro 2008

DE PAI PARA FILHO

Tenho muito orgulho de que sejas meu filho, gostei da tua opinião que é muito sensata.
Seguiremos as tuas indicações; afinal somos família, pais e filhos.

Quanto ao facto do tempo que lamentas “ter perdido” e pensas que não poderás recuperar, acredita no que te digo, pois a idade ensina-nos alguma coisa e tempo virá que vais entender o que agora te digo e nesta altura ainda não poderás entender… és muito novo…

O tempo que tens dispensado nestes últimos anos, longe de família e amigos, trabalhando arduamente, privado do teu conforto e coisas que gostarias de fazer… ainda que sem o saberes, já o recuperas-te… está a teu crédito, depositado no Grande Banco da Vida, numa conta a prazo que não está disponível para toda a gente e a que muitos milionários não tem acesso - a conta da vida vivida, com esforço, com valor, com preserverança, com aventura e com idealismo lúcido e são.

Nenhuma outra conta dá dividendos tão altos, nenhuma outra conta em banco algum, te reembolsará por eventuais prejuízos sofridos.

Acabaste de abrir a tua conta, foi investimento. A tua conta da vida é tão recente que nem tempo ainda tiveram para te emitir o cartão de crédito ou o livro de cheques e todavia já tens a crédito a experiencia de momentos bem passados nas mais variadas partes do mundo, de saber e de vivencia que a maior parte dos jovens, dos adultos e dos velhos não tem e possivelmente nunca virão a ter. Mas atenção, isso não são os juros do tempo ou os juros do capital investido… isso é apenas o BONÚS que te foi oferecido pela abertura de conta no Banco da Vida.

Amanhã meu filho, depois das formalidades burocráticas inerentes à abertura de conta, serás totalmente reembolsado com juros, do capital-tempo investido.

Poderás então usufruir do “tempo perdido”. Poderás apreciar, e digo apreciar que é diferente de consumir… apreciar tudo aquilo que julgavas ter perdido.

A vida não começa nem se esgota aos vinte nem aos trinta anos… a vida começa pouco depois dos quarenta. Concordarás sem dúvida, que os melhores momentos que viveste ao volante do teu carro, não terão sido os do tempo em que ainda estavas na escola de condução ao lado do instrutor, mas mais tarde, quando já com carta de condução e alguma prática, começas-te a fazer as tuas viagens, livre, tranquilo e sabedor do conhecimento adquirido.

Será então amanhã meu filho, que se Deus quiser, terás de volta o “tempo perdido”, para que o possas apreciar e viver em plenitude, com consciência e saber, condimentos essenciais para apreciadores, que não apenas consumidores.

Deus, o grande Banqueiro da vida, concede-nos a todos, uma moratória para as nossas dívidas, paga prontamente os dividendos das nossas acções e não cobra taxas nem juros… porque no Grande Banco da Vida o capital não é dinheiro, mas sim a própria vida.

Já falta pouco para o teu regresso, terás então tempo para recordar e reviver, sorrindo e gargalhando, pelo caricato dessa aventura que acabas de viver e, asseguro-te, que até os momentos menos felizes te vão deixar saudade.

Abraços e beijos
O Pai


PS

Pressinto, não é por acaso que sou pai, que há, ou houve, nesta “abertura de conta” uma ELA.

Vou dizer-te uma coisa que aprendi contigo. Sim os pais também aprendem com os filhos…

Não fiques a lamentar-te do que poderias ter feito e não fizeste. Levanta o cú da cadeira e persegue os teus ideais, é preferível lamentares não teres conseguido; do que lamentares não teres tentado.

ELAS raramente sabem o que querem… por isso às vezes é preciso indicar-lhes o caminho.

Quanto ao “mau aspecto” apenas te digo – perante uma mulher, um homem faz sempre papel de parvo, por isso, se tentares, não ficas mais mal visto do que já estás… eh eh eh!