“TINTO E DO MELHOR” ou Histórias do Tio Zé
Como já sabem, o “Tio Zé”, tio de minha mulher, era um homem muito especial, de fina graça, bom contador de histórias e médico da velha escola de Coimbra.
Numa ocasião, em Janeiro, pela altura dos Reis, o tio reuniu a família em sua casa para a ceia, onde aguardamos a chegada dos grupos que iriam Cantar os Reis ou as Janeiras, como é tradicional ainda hoje por estas aldeias de Trás-os-Montes.
Foi então que me lembrei que seria simpático oferecer ao Tio Zé qualquer coisa para a ceia; talvez um bom vinho.
Assim sendo e esquecendo-me que estava numa vila onde os Grandes Centros Comerciais não existem e as boas lojas de vinhos são apenas uma ou outra taberna que àquela hora tardia e com os caminhos cobertos de gelo ainda não tivesse fechado, meti-me a caminho à descoberta de uma pinga que não desmerecesse a solenidade da ocasião e estivesse à altura da condição social do nosso anfitrião bem como do seu paladar requintado.
Verdade seja dita é que eu não sou um entendido em vinhos. Para mim só há duas qualidades de vinho – aquele de que eu gosto e os outros de que eu não gosto, pese embora o facto de muitas vezes os “entendidos” dizerem que o vinho de que eu gosto não presta - e tinto. Seja lá o que for o prato, para mim é sempre tinto a acompanhar.
Depois de demorada procura, lá dei com uma tasca onde entre várias marcas de vinho corrente e barato, vislumbrei no alto de uma prateleira, cobertas pelo pó e cheias de teias de aranha umas garrafas que pelo aspecto gráfico do rótulo e pelo nome, uma “quinta de uma marquesa ou morgada qualquer”, de quem eu nunca tinha ouvido falar, me pareceu ser a escolha adequada.
Pelo preço, bastante mais caro do que os outros, mas ainda assim acessível, estava decidido. Foi então que vi o ano da colheita, 1966… não havia dúvida, antes da “bronca”, tinha que ser uma especialidade.
Comprei três ou quatro garrafas e orgulhoso da minha sábia escolha, lá fui andando para casa, com aquele néctar dos deuses.
A ceia decorreu normalmente e já no final, quando o Tio, para acompanhar os cafés, nos brindou com uma das suas águas ardentes velhas, eu, admirado por ninguém ter feito ainda referencia ao excelente vinho que tinha trazido, atrevi-me a perguntar ao Tio o que tinha achado do vinhito que eu trouxera.
Com um brilho no olhar e com o ar mais malandro que possam imaginar, o Tio respondeu apenas isto:
- Olha filho… dentro do género ordinário, é do melhor que tenho provado!
Numa ocasião, em Janeiro, pela altura dos Reis, o tio reuniu a família em sua casa para a ceia, onde aguardamos a chegada dos grupos que iriam Cantar os Reis ou as Janeiras, como é tradicional ainda hoje por estas aldeias de Trás-os-Montes.
Foi então que me lembrei que seria simpático oferecer ao Tio Zé qualquer coisa para a ceia; talvez um bom vinho.
Assim sendo e esquecendo-me que estava numa vila onde os Grandes Centros Comerciais não existem e as boas lojas de vinhos são apenas uma ou outra taberna que àquela hora tardia e com os caminhos cobertos de gelo ainda não tivesse fechado, meti-me a caminho à descoberta de uma pinga que não desmerecesse a solenidade da ocasião e estivesse à altura da condição social do nosso anfitrião bem como do seu paladar requintado.
Verdade seja dita é que eu não sou um entendido em vinhos. Para mim só há duas qualidades de vinho – aquele de que eu gosto e os outros de que eu não gosto, pese embora o facto de muitas vezes os “entendidos” dizerem que o vinho de que eu gosto não presta - e tinto. Seja lá o que for o prato, para mim é sempre tinto a acompanhar.
Depois de demorada procura, lá dei com uma tasca onde entre várias marcas de vinho corrente e barato, vislumbrei no alto de uma prateleira, cobertas pelo pó e cheias de teias de aranha umas garrafas que pelo aspecto gráfico do rótulo e pelo nome, uma “quinta de uma marquesa ou morgada qualquer”, de quem eu nunca tinha ouvido falar, me pareceu ser a escolha adequada.
Pelo preço, bastante mais caro do que os outros, mas ainda assim acessível, estava decidido. Foi então que vi o ano da colheita, 1966… não havia dúvida, antes da “bronca”, tinha que ser uma especialidade.
Comprei três ou quatro garrafas e orgulhoso da minha sábia escolha, lá fui andando para casa, com aquele néctar dos deuses.
A ceia decorreu normalmente e já no final, quando o Tio, para acompanhar os cafés, nos brindou com uma das suas águas ardentes velhas, eu, admirado por ninguém ter feito ainda referencia ao excelente vinho que tinha trazido, atrevi-me a perguntar ao Tio o que tinha achado do vinhito que eu trouxera.
Com um brilho no olhar e com o ar mais malandro que possam imaginar, o Tio respondeu apenas isto:
- Olha filho… dentro do género ordinário, é do melhor que tenho provado!