12 junho 2008

INSTINTOS PRIMÁRIOS ou Como um Animal Selvagem

Não quero saber o que esta história parece. Já há muito que me deixei de preocupar com aquilo que se designa como - política ou socialmente correcto.

Hoje vou lá – esta manhã primaveril despertou em mim instintos primários. Hoje vou lá, vou percorrer todos os caminhos onde a possa encontrar. O predador em busca da presa, o macho em busca da fêmea.
* * * * *

Quando era criança, subitamente numa dada altura do ano, ao acordar, sem saber porquê, sentia-me feliz, vivo, alegre.

Era então que reparava que pelas frestas das portadas da janela do meu quarto se coavam uns raiozitos de sol mais brilhantes do que o habitual e que davam ao quarto, não obstante as sombras das frondosas árvores, uma luminosidade especial, azulada, morna e mais intensa.

Pese embora o facto de ser um homem “moderno”, ainda dou muita importância aos sentidos e aos instintos. É através deles, como então quando menino, que capto as mais diversas sensações; um mundo de informação que me chega através da pele, do ouvido, do olfacto, muito antes ainda que a visão e que ao acordar determina o meu humor para o resto do dia.

Em criança, ao despertar nessas manhãs especiais, para além da luz coada através das frestas e buracos das portadas em madeira das janelas do meu quarto, recebia do exterior esse mundo de informação.

A sonoridade dos pregões de Lisboa anunciando as primícias da época – cerejas, “brincos de princesa” como eu lhes chamava, as vozes, o som abafado do rodado das carroças e dos cascos das mulas que as puxavam e até o som dos poucos automóveis que passavam, chegavam até mim com uma sonoridade especial, diferente da dos dias de Inverno. Se isso não bastasse, o chilrear dos pássaros que se acomodavam e faziam os ninhos nas árvores da avenida 5 de Outubro e Barbosa du Bocage, eram a confirmação – Tinha chegado a Primavera.

Estendia-me então preguiçosamente na cama e ficava a contemplar no tecto do meu quarto o espectro da luz solar que se infiltrava por algum buraco das ripas de madeira das portadas da janela e incidindo nos espelhos e puxadores dos moveis, igualmente em vidro espelhado, se decompunham em maravilhosos pontinhos coloridos das sete cores do arco-íris

Preguiçosamente esticado na cama desfrutava através da pele, de uma agradável aragem morna, que me chegava da rua pela janela interior semiaberta.

A esta capacidade de sentir, muitas vezes sem ver - através da pela, do olfacto e do ouvido o mundo que nos rodeia, é a isso que eu chamo o INSTINTO ANIMAL e penso que os cidadãos do mundo moderno, audiovisual, electrónico, “pré-fabricado” das grandes cidades, já hoje se não apercebem.

São estes “instintos animais” que me dão, tal como um animal selvagem, a noção de que é a época da caça, a época do acasalamento ou a época de hibernar. São estes instintos que algumas vezes determinam as minhas acções, o meu modo de agir.

Hoje, tal como antes, ao acordar, tive a certeza que finalmente a Primavera tinha chegado e novamente tinha despertado da invernia para a vida.

Obedecendo a um impulso incontrolável, a um instinto selvagem, tomei a decisão – fosse qual fosse o preço. Percorrer o caminho, com arrojo, com determinação; indiferente ao perigo, aos inconvenientes, disposto a correr todos os riscos – procura-la, abraça-la, subjuga-la, morder-lhe os lábios com terna fúria – BEIJÁ-LA OU MORRER.

03 junho 2008

FINALMENTE O FINALMENTE

Chegou hoje o dia que aguardo desde muito jovem. Confesso que com esta minha amnésia, já não me lembro muito bem da razão pela qual aguardava este dia.

Finalmente vou ter mais tempo para vos visitar.

Finalmente vou ter mais tempo para vos ler.

Finalmente vou ter mais tempo para escrever.

Finalmente vou ter mais tempo para dedicar às inúmeras tarefas que foram ficando para trás por falta de tempo.

Finalmente, chegou o finalmente.

Chegou o tempo em que inexoravelmente, vou ficando com menos tempo, sempre menos tempo, para fazer aquilo que quando tinha tempo, não fazia por não dispor de tempo - quando ainda havia tempo.

ESTOU REFORMADO e espero que seja bom, tal como durante anos imaginei que seria. Será!?...
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Se não for, paciência, já não posso voltar atrás… nem hoje, nem ontem… Hoje ainda não estou arrependido, mas ontem… ontem… porque não voltei para trás!?... e se voltasse?... será que me teria arrependido?...
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Acho que só vou saber a resposta no final do finalmente, ou depois.

Deixaremos sempre alguma coisa por fazer, deixaremos sempre alguma coisa por corrigir, deixaremos sempre uma palavra por dizer, por falta de tempo...